Uma aventura … em casa!
29-04-2020
Os desafios do nosso dia a dia são como os de muitas famílias. Confinados num apartamento em Lisboa, com 7 filhos (dos 12 aos 2 anos), quatro com aulas on-line, e a tentar equilibrar o trabalho, com o apoio aos que estudam, o cuidado dos mais novos, a vida em família e as tarefas domésticas.
Na realidade não sabíamos bem o que nos esperava, a única coisa que sabíamos era que íamos estar os nove juntos uma bela temporada. Ia ser uma aventura … em casa! Que sorte sermos 9. 18 mãos para ajudar, 9 cabeças a pensar, 9 caras a sorrir! Foi assim que apresentámos ao jantar aos nossos filhos o tempo que aí vinha.
Pegámos numa caneta e numa folha (um bocadinho old school…) e começámos a planear a aventura da quarentena. No fim, lemos para todos e colámos na parede da sala. Primeiro, vinham os princípios de que nos devíamos lembrar e logo a seguir o horário de cada dia, que foi sendo adaptado em função das sugestões de todos. O horário inclui tempo para estudar/trabalhar, brincar, ler, rezar, fazer as tarefas domésticas, etc. Também se definiram equipas de trabalho, dois a dois, os miúdos rapidamente se organizaram, e tínhamos a equipa do lixo, da roupa suja, da roupa lavada, de aspirar e de limpar as casas de banho, para além da rotatividade habitual do ajudante de cozinha (tarefa que todos adoram!).
O mais incrível é que parecia mesmo uma aventura. Depois foram as mudanças na casa (coisa que habitualmente fazemos em época de férias), reorganizámos móveis e mudámos a disposição dos quartos e do escritório. A adesão foi ótima e a excitação total!
Agora a vida real…. Dias intensos, 24hx24h todos juntos, sem tempo só para nós, sem hipótese de fazer um pause no dia, nem de um programa só os dois, os miúdos à luta e com excesso de energia para gastar… Mas como todos os desafios são oportunidades, e estando certos que é aqui que Deus nos pede que estejamos dando-nos todas as graças para vivermos este período, fomo-nos adaptando.
Os nossos dias de semana começam com a Missa do Pe. Pedro, capelão do colégio, no ecrã da sala. Os mais velhos saem a correr da Missa para o escritório para as aulas on-line, onde passam a manhã. Raramente precisam da nossa ajuda, pois os quatro apoiam-se com as entradas e saídas do Zoom e do Teams (mas também se aborrecem, beliscam e um sem fim de disparates). Quando têm aulas de música ou ginástica vão para o quarto dos rapazes ou das raparigas. Em paralelo, os mais novos (2, 4 e 6 anos) estão em pulgas para ver os vídeos das suas queridas educadoras (nesta fase quase youtubers) para saberem qual é o “trabalho” que vão fazer nesse dia!
Ao fim da manhã começam a aparecer os mais velhos na sala, cheios de curiosidade para ver se ainda vão a tempo de fazerem alguma brincadeira com os manos … ginástica, pinturas, recortes ou jogos! Depois acabamos a cantar a música do Colégio que as nossas mais novas tanto gostam: “arrumar, arrumar, tudo, tudo no lugar…” E vamos pôr os aventais! Quando está tudo preparado, almoçamos todos juntos.
Depois do almoço, é tempo de descansar e por isso de calma, as mais novas fazem a sesta e os outros ficam a fazer puzzles ou a desenhar na sala enquanto ouvimos os “10 minutos com Jesus” (os miúdos adoram tentar adivinhar quem é o sacerdote que está a falar!). E segue tudo a correr para as aulas e para o trabalho nos quartos! Eu continuo com os mais novos a ler histórias, ver os vídeos do inglês, alguma atividade mais simples e preparamos o lanche.
Ao fim do dia é tempo de jogos de tabuleiro, de uma saída ao parque de bicicleta ou de passar pela Igreja para visitar Nosso Senhor. Depois banhos e as tarefas da casa; jantar, arrumar a cozinha, terço e cama (ou não… as mais velhas querem sempre esticar mais um bocadinho o dia… E nós ansiosos por os ver todos a dormir).
Quando tudo acalma, apesar das irritações e do cansaço, ficamos com a ideia clara do bom que é podermos estar todos juntos durante este tempo tão diferente, conhecermo-nos melhor e reforçar a vida de família!
A organização e as rotinas têm sido chave para sobreviver nesta quarentena! Mas também aprendemos a importância de sermos muito delicados uns com os outros, dizendo muitas vezes, como propõe o Papa Francisco: “por favor, desculpa e obrigado”, pois todos juntos tanto tempo só pode dar asneira se não formos cuidadosos e amáveis entre todos. Passo mesmo os dias a dizer para pedirem desculpa. É muito importante também estarmos atentos uns aos outros porque conseguir um tempo individualizado com cada filho é, agora, um desafio ainda maior!
No fundo, continua a luta do dia-a-dia e agora, provavelmente muito mais do que antes, o cuidado com as pequenas coisas faz toda a diferença, pormenores entre nós (uma palavra, uma necessidade que antecipamos, uma refeição de que todos gostam, …); manter a casa minimamente arrumada e limpa; garantir que todos se arranjam a horas e cumprem as suas tarefas; reforça a vida de família e evita que em poucas horas se instale o caos.
A importância do otimismo (um dos princípios que definimos no início) também ficou clara para nós! Pois não se aguenta passar o dia a dizer que “não” a tudo: Queremos ir visitar os avós! E a minha festa de anos, não há? E se fossemos ao cinema? Também posso ir ao supermercado? Podemos fazer um piquenique? … Podemos quase tudo, só precisamos de um bocadinho de criatividade e muita paciência… ligamos em vídeo chamada para os avós e fazem um teatro em direto; cantamos os parabéns via Zoom com toda a família (mesmo que tenha demorado uma eternidade até conseguirmos estar todos…); fazemos cinema em casa com pipocas; fazemos um piquenique na varanda; um sem fim de oportunidades a explorar!
Como o otimismo também a alegria é obrigatória nesta fase para fazermos felizes os que estão à nossa volta, pois estamos certos de que somos levados ao colo por Deus e agradecidos por nos termos uns aos outros.
Inês Vilhena da Cunha
Mãe do Mira Rio e Planalto