Dia Mundial do Livro: ler e escrever sobre o isolamento
23-04-2020
Todos os anos é assim: no dia 23 de abril, celebra-se, um pouco por todo o mundo, o Dia Mundial do Livro, data instituída pela UNESCO para celebrar os escritores de todo o mundo e as suas produções. No Colégio Mira Rio, também celebramos a literatura. As alunas do 8.º ano comemoraram este dia de uma forma diferente. Este dia foi, aliás, preparado ao longo de duas semanas. Que atividade foi então desenvolvida?
Na disciplina de Português, a unidade didática em que nos encontramos agora centra-se no estudo do texto autobiográfico, sobretudo na abordagem a duas obras de temática semelhante, O mundo em que vivi de Ilse Losa e O diário de Anne Frank. Como as alunas e as suas famílias estão recolhidas nas suas casas, devido às circunstâncias relacionadas com a COVID 19, pensámos que seria interessante que, durante este período de isolamento social, as alunas escrevessem o seu próprio diário, inspiradas pelos relatos de Ilse Losa e de Anne Frank. Assim surgiu a tarefa Diário do meu isolamento, em que as alunas foram convidadas a registar como vivem o seu tempo de isolamento social. Os vários diários transformaram-se em testemunhos do contexto histórico em que vivemos, uma vez que, para além de se descreverem algumas das atividades que as alunas estão a fazer, ficamos também a perceber em que pensam, como se sentem, que preocupações têm e o que têm aprendido com este período de confinamento.
Algumas alunas quiseram partilhar connosco algumas das entradas do seu diário, fotos que registam as paisagens para que olham mais por estes dias, palavras que realçam bem o seu quotidiano familiar, o quanto se preocupam com as suas famílias e a ansiedade em que se encontram. Outras alunas aproveitam o diário para dar largas à veia artística e desenhar os objetos que estão mais perto delas e nos quais tropeçam com frequência.
«Mais um dia em que não saio de casa. Difícil! Quem diria que isto ia acontecer… Há uns meses, ninguém o pensaria! Estou muito preocupada com a minha família. O meu avô, apesar de reformado, insiste em ir ao hospital e ajudar em cirurgias. Eu já lhe disse imensas vezes: “Avô, eu sei que trabalhou vários anos em Santa Maria, desde os seus vintes e tal anos, mas não pode ir lá! Está em idade de risco! O avô já se reformou! Fique em casa. O avô, sendo médico, devia saber isso mais do que ninguém.” E ele responde sempre: “Mas eu tenho de ajudar…” Já não sei o que lhe dizer.» (Maria)
Outras entradas são mais cândidas mas espelham os instantes em que a nossa vida doméstica pode ser rica em beleza e comunhão.
«Hoje, toquei piano com a minha mãe. Eu adoro tocar piano com a minha mãe por várias razões. Em primeiro lugar, ela ensina-me a tocar músicas de que gosto muito; em segundo lugar, a minha mãe toca espetacularmente bem piano, toca de tal maneira que os meus ouvidos ficam deliciados e, cada vez que a ouço, penso «Que orgulho!» e «Orgulho-me tanto da minha mãe!» Em último lugar, quando ela acaba de tocar deixa-me tocar também. É um momento mágico!» (Marta)
Não haveria melhor forma de comemorar o Dia Mundial do Livro que ter 24 alunas a produzir LITERATURA, fruto da observação do exterior e da reflexão interior: são assim as alunas do Mira Rio, mostram-nos que, mesmo em alturas difíceis, há sempre espaço para olharmos os outros, pelos outros e com os outros…nem que seja através da palavra escrita num diário.